quinta-feira, 22 de setembro de 2016

 “A pessoa com deficiência na minha história de vida” 


               Apresentarei aqui um relato sobre a marcante presença de deficientes  na minha trajetória de vida.  Até os trinta e seis anos de idade residi em um pequeno vilarejo no Nordeste de Minas Gerais e acredito que pelo fato de conviver nessa pequena comunidade  seja o principal motivo pelo qual tive pouco contato com deficientes.  
Durante minha infância pude conviver um pouco com um tio que era paraplégico e com  um adolescente que tinha uma das pernas completamente atrofiada por consequência de uma paralisia infantil.  Em ambos os casos, quando os conheci, sentia muita pena de vê-los naquela situação. A medida que fui crescendo e os conhecendo melhor pude perceber que, mesmo com algumas limitações, eles levavam uma vida normal. Percebi também que os pais daquele adolescente o protegia muito além de ser o único da família que recebeu incentivo para estudar. 
Cursei  Ensino Médio  em uma cidade vizinha onde conheci um rapaz que tinha síndrome de Down. A mãe desse moço trabalhava na cantina da escola onde eu estudava e eu sempre o vi por lá. Embora eu tivesse muita vontade de conhecê-lo melhor, eu sentia muita dificuldade em me aproximar dele.
       Comecei a lecionar  no ano de 95 quando cursava o primeiro período da Licenciatura em Matemática  e  durante minha atuação profissional  vivenciei algumas  situações com alunos deficientes que me marcaram muito.  No inicio da minha carreira docente assumi a regência de uma turma de primeira série do Ensino Médio que tinha um aluno surdo. Foi um desafio gigante devido a minha falta de experiência e uma grande preocupação sobre como iria me comunicar com tal aluno, uma vez que naquela época não existia interprete nas escolas. A comunidade escolar também não o conhecia pois  ele era novato naquela escola. Durante as aulas eu ia até sua mesa para tirar as dúvidas e me comunicava com ele por  meio de mensagens escrita em seu caderno. A princípio corria tudo bem até eu o perguntei se aquele método  de comunicação  o incomodava  e ele disse que sim.  Fiquei desorientado sem saber o que fazer e procurei  sua família para  buscar orientações, algo que já deveria ter feito desde o início.  Com isso, descobri que ele tinha sido alfabetizado numa escola de ensino regular que  ele fazia leitura labial. Daí por diante, ao explicar  os conteúdos me atentava em falar olhando para ele,  além de detalhar as coisas quando eu escrevia na lousa. Para minha felicidade,  o aluno  foi destaque em Matemática durante todo o Ensino Médio.
         Em 2013, quando ainda era professor no IFMG- Câmpus Ouro Preto,  tive um aluno com deficiência visual  em  turma do ensino técnico integrado e outro surdo no segundo semestre do curso de Licenciatura em Física. Também foi desafiador o trabalho com esses alunos para que os mesmos se sentissem de fatos incluídos na aulas.  Em relação ao deficiente visual, praticamente todo o conteúdo da série que ele cursava envolvia o estudo de gráfico de funções. Como a escola não estava preparada em relação a material didático, além de outras atitudes, tive a ideia de construir um plano cartesiano tátil para que o aluno pudesse “visualizar” os gráficos das funções. Conforme as figuras abaixo, o material permitia que o aluno pudesse construir os gráficos e perceber as  suas propriedades por meio do tato.


 Figura 1:  Material Utilizado para Construção do Geoplano.

 Figura 2: Gráfico da Função Quadrática

 Figura 3:Gráfico de Funções Inversas: Exponencial e Logarítmica
Segundo esse aluno, o material facilitava sua aprendizagem, pois nas  séries iniciais das escolas regulares onde  ele estudou,  teve muito contato com materiais manipulativos. Em resumo, ele disse que a partir da exploração do material tátil  ele conseguia  fazer generalizações  e   resolver os exercícios  com base na imagem mental que ele construiu  a partir dessa manipulação. Também foi um aluno com um ótimo desempenho nas aulas de Matemática.
    Quanto ao atendimento do aluno surdo nas aulas de Cálculo Diferencial e Integral, eu usava alguns recursos computacionais para visualizar alguns resultados do conteúdo. Nessa mesma época fiz um breve curso de LIBRAS oferecido pelo próprio IFMG que me permitiu uma pequena interação com o aluno e  dar mais atenção para ele. Eram sinais básicos, como por exemplo, cumprimentar, perguntar se entendeu, se estava  fácil ou difícil, mas que o deixava mais a vontade nas aulas. Ele tinha uma interprete com quem eu conversava muito para saber sobre as dificuldades e de que forma eu poderia estar ajudando.
         Esses foram os fatos que me marcaram grandemente na minha história de vida na convivência com deficientes  com os quais aprendi muito.